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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Lucky Jim

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  O mundo acadêmico é intricado e só quem faz parte dele consegue ter acesso às suas peculiaridades. Existem regras para entrar, para permanecer e para crescer nele e apesar de nem todas as pessoas inseridas na academia concordar e seguir essas regras, é fato que para ter sucesso é preciso disciplina, sangue-frio e uma boa dose de bajulação. Se você é orgulhoso (a) e incapaz de se colocar em segundo plano ou, ao menos, de renunciar aos seus desejos em benefício dos anseios do seu (sua) mentor(a) certamente terá muito mais dificuldade para alcançar a tão sonhada titularidade de professor(a) universitário(a). Isso é o que ensina Lucky Jim , de Kingsley Amis. Por meio de uma escrita ágil, hilária e sádica, recheada de mal-entendidos e situações constrangedoras, Amis conta as peripécias pelas quais passa o ironicamente sortudo James Dixon , vulgo Jim, enquanto luta para assumir o cargo de professor de História em uma universidade inglesa. A escolha do verbo “lutar” é adequadamente empregad

Contra Amazon

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  Parte dos sebos são formados por bibliotecas inteiras de pessoas que falecem e têm seus livros vendidos para esses estabelecimentos. Conta-se que no México pessoas ficam à espreita, vasculhando os obituários para prontamente se apresentarem aos responsáveis pelos espólios com a proposta de lhes comprar as obras literárias do finado: são as ‘aves de rapina dos livros’ ou ‘abutre dos livros’. Esse é um dos causos sobre livros que aparecem em Contra Amazon , de Jorge Carrión . A obra, além de contar com o manifesto que lhe dá nome, é composta por ensaios e entrevistas que têm em comum o amor pelos livros e a defesa das livrarias físicas. Toda essa tentativa se faz através de relatos que relacionam lugares, eventos e personalidades, sejam estas conhecidas ou desconhecidas. Inspirado nas dezenas de livrarias ao redor do mundo já visitadas, Carrión expõe uma perspectiva coerente para qualquer amante das letras: a de que obras literárias não são objetos quaisquer que possam e devam ser com

Os Luminares

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  Sabe aquele tipo de leitura que quanto mais você lê, mais empolgada fica pelo simples fato de que a história é tão envolvente que é difícil largar o livro? Em quase 900 páginas, Eleanor Catton constrói uma história composta por pouco mais de 15 personagens que têm suas próprias histórias, formando outras quase 15 narrativas. Diria que Os Luminares narra sobre a morte e o desaparecimento de dois mineiros na cidade de Hokitika, Nova Zelândia, e suas relações na vida de outras pessoas. Ao mesmo tempo, os indivíduos impactados pelos eventos trágicos têm parte de suas vidas dissecadas para explicar como chegaram até ali e como se relacionam com os acontecimentos mais recentes. Como se não bastassem as dezenas de histórias criadas por Catton , as ações dos personagens e os eventos em si são explicados pelos astros. A autora dispõe em cada começo das partes que reúnem os capítulos mapas astrais relacionando os 12 signos com 12 dos 16 personagens. É um trabalho primoroso e que rendeu à Cat

A elite do atraso

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  Do ódio ao escravo ao ódio ao pobre, o sociólogo Jessé Souza decifra a genealogia da classe média brasileira e o seu papel nos acontecimentos políticos mais recentes. Nessa edição revista e atualizada, A elite do atraso monta o panorama que permitiu chegarmos à eleição de Bolsonaro, um candidato declaradamente preconceituoso, violento, antidemocrático e “com pregação abertamente fascista”. Seguindo o fio já tecido nos livros anteriores, Jessé permanece na sua crítica à ideia cada mais forte de que todo o mal do país se deve ao Estado. Comentando as contribuições deixadas pelas principais referências do pensamento político-social do país – Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Raymundo Faoro, Florestan Fernandes e Roberto DaMatta - e que ditaram o modo como percebemos ainda hoje nossa sociedade, o livro mostra como o passado escravocrata está intimamente ligado à intensificação do fascismo tupiniquim. Ao observar que a associação entre corrupção e Estado é tida como certe para

Eu estou pensando em acabar com tudo

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Se você leu o livro depois de ter visto o filme por não ter entendido nada, saiba que não está sozinha (o). A notícia boa é que a obra literária pode ajudar a compreender qual a ideia da história ou as ideias, já que de acordo com Iain Reid o livro permite várias interpretações. A narrativa contada em forma de relato escrito se baseia na ida de uma moça à fazenda dos pais de seu namorado Jake para conhecê-los. O grande dilema é que ao mesmo tempo em que aceita dar esse passo, que para a maioria dos relacionamentos é uma comprovação de que a coisa está ficando séria, ela pensa em acabar o namoro. Ao longo da viagem, as conversas e os pensamentos da garota vão dando a dimensão do conflito pessoal pelo qual ela passa. Nesses momentos foi impossível não pensar na pressão social e familiar que se coloca em cima da mulher para que mantenha o relacionamento, em grande parte porque ela precisa cuidar daquele homem. Mesmo que o laço entre o casal já esteja se desfazendo ou que não haja mais am